Guilherme Dearo resgata fotografias antigas descobertas em sebos e cria sobre elas pequenos poemas-memória, conjecturando o passado e nossa própria história. Feitos entre os anos 1920 e 1960 por fotógrafos amadores e anônimos, os retratos capturam, além dos costumes de uma época, nuances da alma humana. Aliadas à imaginação de Guilherme, as imagens aqui resgatadas voltam a circular à luz do dia e têm o dom de trazer graça e leveza a quem as encontrar.
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Orelha
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Guilherme Dearo une em Um lugar qualquer duas artes – fotografia e poesia – que têm em comum algo muito especial: a revelação. Uma imagem nos revela “o momento decisivo”, como chamou Cartier-Bresson, que fica congelado no tempo. Um poema nos revela um novo sentido relacionado à linguagem, algo inaugural. As duas juntas, aqui, nos dão uma coleção de fotos-poemas que transbordam humanidade nos seus gestos cotidianos, em brincadeiras de crianças, grupos de amigos ou poses arranjadas. Os poemas recriam as imagens e vice-versa. Com o livro nas mãos, sentimos o “esmagamento do tempo”, como chamou Roland Barthes, quando passado (momento em que a foto foi tirada) e presente (quando está sendo observada) se confrontam e se confundem. E podemos acrescentar, talvez, um futuro. O “sonhar com o próprio futuro”, como diz um dos versos de Dearo, já que o autor, com o poema, imagina algo que vai perdurar na mão de uma geração futura ou na memória do leitor. Partindo sempre de uma concretude (algo que costuma ser base sólida para os bons poemas), num tom bem-humorado e gentil, Dearo recria, num trabalho preciso com a linguagem, imagens perdidas em feirinhas de antiguidade que não podem mais ser contextualizadas com exatidão. Mas podem, sim – daí a alegria que nos dá este livro – fazer par e gerar algo novo com estes curtos e belos poemas. - Michaela Schmaedel​​​​
